EPITÁFIO PARA UMA CERTA «AMIZADE»
Lá jaz a amizade em campa rasa
Se uma amizade morre é dor pungente
Nem sequer chegou a adolescente
Ígnea fogueira o coração abrasa
Precoce anorexia logo a arrasa
Qual filho pródigo que abandona a casa
Melhor foi a morte para a doente
E em todos deixa saudade dormente
Um calor humano que não abrasa
E quem a perde já não tem a asa
Gélido que a deixa descontente
Que cobre e afaga o ombro, docemente
Sem ter apoio, abrigo ou até casa
Só o vazio ficará latente
Amizade sucumbiu precocemente
No sem abrigo que perdeu a casa
Por ela até rascunho um cardápio
Fica perdido quem a perde assim
Um sentido e dolorido epitáfio
Um bem tão raro, não deve morrer
Que vou esculpir em mármore de Carrara
E se assim for e ele chegar ao fim
Não tenhas pena poeta, qual arara
Gravo-o, antes, a ouro e marfim
Teu poema já dourou a tua vida
Esse tesouro para o poder ter
Por ele ganhaste a Terra Prometida.
Na campa rasa que existe em mim.
MARIA VITÓRIA AFONSO. EDUARDO MAXIMINO.
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