domingo, 18 de dezembro de 2011

FADO PORTUGUÊS


Fado Português
Eugénio de Sá

Quando ao Tejo regressaam
as primeiras caravelas
que da Índia eram tornadas
traziam fado com elas
havia fado nas velas
nos mastros, nas amuradas
e aquelas faces tisnadas
e aquelas mãos maceradas
de labutas e de mágoas
deixaram glórias nas águas
que levaram e trouxeram
os homens que as afrontaram
e o fado português
que no mar se ouviu primeiro
na boca de um marinhero
ensinou nobreza às vagas
dobrou cabos, vergou fragas
ensinou o Adamastor
que um homem vence o pavor
c’o a força de um povo inteiro!

E O PALHAÇO CHORA - Eugénio de Sá


E O PALHAÇO CHORA
Eugénio de Sá

Chora-lhe a alma enquanto os olhos riem
é assim o palhaço original
vertendo da existência o pior mal
no âmago de si, sem outros o sentirem

E na dor mergulhado finge ser
da hilaridade o seu senhor
mas fica-lhe a tristeza por penhor
vergando-lhe ao desgosto o padecer

Na pobreza das vestes é grotesco
desfigurada a face à alquimia
que lhe acentua o esgar quase dantesco
querendo tornar veraz a alegria

Mas se o cobre riqueza bijouteira
E a alvura lhe manda na aparência
quase aflora a demência tal bobeira
Perante a contradição da evidência

sábado, 17 de dezembro de 2011

Sortilégio - Eugénio de Sá


Sortilégio
Eugénio de Sá

Sente na boca a força deste beijo
Oh meu amor tão novo mas tão forte
Que outro esplendor igual ao do teu porte
Não me embargue a visão que ora festejo

Faz deste servo teu tão venturoso
O ser que imaginaste em devaneios
Deixa que enfim repouse nos teus seios
Todo este amor liberto e fervoroso

E que o ígneo desejo assim brotado
Que pulcro rege o nosso amanhecer
Nos mostre sem vergonhas de pecado

Que amar assim nos faça bem dizer
Todas as vidas de um outro passado
E remir todo o mal doutro viver!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Acróstico para Jesus - Maria Vitória Afonso

                            
                            Acróstico para Jesus


                            Num subúrbio de Belém
                            Assim inusitadamente
                            Sem querer ir para o hospital
                            Com apenas S. José presente
                            E sem pedir epidural
                            Uma Maria calma, embora inexperiente

                            Já sente as dores, sorri
                            Embevecida dá à luz o Salvador
                            Sente-se feliz por tal maternidade
                            Um príncipe dos príncipes nasce humildemente
                            Sublime exemplo para a posteridade


                                     Maria Vitória Afonso

O Natal dos Poetas - Maria Vitória Afonso


O Natal dos Poetas

Da infinita bondade de Jesus
Dessa inefável matéria
Qual substrato psíquico
De insustentável leveza
É que se fez a magia
De que são imbuídos os Poetas.
Por isso cantam o Natal
Com a harmonia dos Anjos Celestes
E com a alma inundada de Esperança
Antevêem um mundo melhor
Sem consumismo.
Sem guerras nem cinismo.
Onde reine a Paz
Como se o Mundo fosse
O tal Poema
Que o Poeta faz
Cheio de Bonomia
Cheio de Alegria
Dando ao Natal
O verdadeiro sentido
O ESPIRITUAL.


Maria Vitória Afonso

Natal da Saudade - Maria Vitória Afonso



Natal da Saudade

Na secular igreja da vila
Mais uma mística Missa do Galo
O sentimento revisita e perfila
Minha presença saudosa, assinalo

Meu ser em grande êxtase apostila
Eufórica, para Jesus, rezo e  falo
Minha alma, louvando a Deus cintila
Do verde do presépio o aroma inalo

  Ah! Belos natais aqui com os irmãos
  Em bem velhas calçadas, dando as mãos
  A caminho de ir beijar o Deus Menino

   Sinal dos tempos, hoje da cidade
   Parti, para vir matar saudade
   Meu coração voou ao som do sino.

         Maria Vitória Afonso

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

DANÇA COMIGO - Efigenia Coutinho


DANÇA COMIGO - Efigenia Coutinho

Mexa os pés! Vem dançar comigo
Deixe seu corpo indo,o meu na ida.
Abraça-me firme, estou aqui contigo,
Nesta nossa dança da contrapartida.

Quando nós estamos dançando
E você me segura assim perto,
Contra seu corpo vai me apertando,
Sinto o amor mais e mais aberto.

Você vai cerrando os olhos, e sonha
Eu vou cantando para você, sonhando
Ao som da música que nos acompanha,
Vamos nós dois pelo salão dançando.

Nós cantamos uma canção de amor,
E eu adoro dançar e estar com você.
Vamos dançar e cantar até sentir o calor
De todas as coisas que desejamos fazer.

Como o tempo, vamos girando
E os nossos dias se tornam poucos,
Mas nossos corpos vão vibrando
Neste frenesim em passos loucos!

Balneário Camboriú
Dezembro 2011

FLOR DO PECADO - Efigênia Coutinho



FLOR DO PECADO - Efigênia Coutinho

Nesta dança ardente em chamas alma desperta
E serpenteia todo o meu corpo em sedução,
Como num jogo, incendeia a pele descoberta
Propenso a exalar o incenso da louca paixão...

O ardor em mim instalado vira um braseiro
De rubro sentir, que toda pele se inflama
E a entranha ardente, deste fogo é o picadeiro,
De onde se devora ao leito desejos,de toda trama.

E em cada beijo sedutor todo o nosso sonho,
Acalenta audaz o desejo dessa entrega total...
E na fascinação de ser possuída componho,
Ao corpo toda chama deste sentir seqüencial.

Agiganta-se dentro de mim o teu ser agrilhoado,
E no meu íntimo a chama ardente em sinfonia,
Exala de todo o ser o aroma da flor do pecado,
Em desejos ardentes numa eloqüente sincronia!

Balneário Camboriú
Dezembro 2011

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

OS GIRASSÓIS - Adelina Velho da Palma

 

OS GIRASSÓIS                                                       

Inspirado em Sunflowers de Vincent van Gogh


Doze girassóis amadurecidos
num vaso bicolor tosco e vidrado
o fundo entre amarelo e azulado
com textura de grosseiros tecidos...

As corolas são rostos esquecidos
que gemem num lamento atordoado,
cada haste é um braço descarnado
com a postura débil dos vencidos...

O vaso é receptáculo de dor
que a terra oculta em si mesma incorpora
e se propaga às sementes da flor...

Tão simples, tanto deixa transparecer
traço, cor, luz e sombra tudo arvora
que p’ra criar é preciso sofrer!...

Adelina Velho da Palma